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As Metáforas das Tamareiras

POR VANDI DOGADO  Certa vez ouvi de um palestrante a belíssima lenda de origem árabe que diz: “quem planta tamareira não colhe tâmaras”. Um afoito espectador na plateia interrompeu-o, erigindo a mão direita e, sem aguardar o devido consentimento, logo emendou em tom elevado e extenso: Mas, pooorqueeeee, senhor? O palestrante como se já esperasse o questionamento manifestou um incógnito sorriso e elucidou que a tamareira leva aproximadamente 100 anos para produzir frutos, ou seja, se considerarmos que a plantemos aos 20 anos de idade, teríamos de viver 120 anos para colher suas tâmaras. Considerei o provérbio esplêndido, porque dele se podem extrair nobres ensinamentos de linguagem e de sapiência. Primeiramente, se tomarmos a expressão no sentido denotativo, defrontemo-nos com uma típica falácia, pois, ainda que naquela época a expectativa de vida fosse baixa, haveria exceções para qualquer ser humano que plantasse a árvore antes dos vinte anos. Por exemplo, se uma criança de 10 anos

Trecho proibido de carta que Mário de Andrade falava sobre a homossexualidade é divulgada

POR VANDI DOGADO
Reitero minha posição de ser contra todo o tipo de preconceito e injustiça por quaisquer tipo de diferença. Um sujeito diferente e excepcional foi Mário de Andrade; mas, por pura tolice, ainda se fala em sua sexualidade. Não vejo como relevante a apresentação na FLIP 2015 (Feira Internacional do Livro de Parati) do trecho da carta que ele escreveu a Manuel Bandeira tecendo uma autoanálise de sua privacidade. O que se deve levar em conta é sua diferença de grandiosidade como escritor. 
LEIA MATÉRIA DO G1:
A Fundação Casa de Rui Barbosa liberou para consulta, nesta quinta-feira(18), a íntegra de uma carta enviada pelo escritor Mário de Andrade ao poeta Manuel Bandeira no dia 7 de abril de 1928. O G1teve acesso ao trecho "proibido", no qual Mário cita sua "tão falada (pelos outros) homossexualidade". Leia a íntegra do trecho abaixo.
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A carta, que faz parte do acervo de Manuel Bandeira na Casa de Rui Barbosa, já havia sido publicada parcialmente em um livro de 1966, que trazia as correspondências enviadas por Mário a Bandeira. O trecho removido havia sido propositalmente retirado, por se tratar de um assunto íntimo.
Conforme indicava a expectativa gerada em torno do trecho ao longo dos anos, o autor de "Macunaíma" comenta as suposições acerca de sua sexualidade.
Já consagrado na época em que escreveu a carta, Mário reclama ao colega das especulações acerca de sua possível homossexualidade e reclama dos comentários sobre o assunto. Também afirma que tomava cuidado para não gerar mais comentários.
"Mas se agora toco neste assunto em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui, a sair sozinho comigo na rua (veja como eu tenho a minha vida mais regulada que máquina de previsão) e si saio com alguém é porquê se poderia tirar dele um argumento para explicar minhas amizades platônicas, só minhas”, diz um trecho (foi mantida a grafia original).
'Invasão de privacidade'
Para a presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa, Lia Calabre, o trecho revela uma discussão presente ainda nos dias de hoje, apesar de ter sido escrito há 87 anos.
"É um questionamento atual da invasão de privacidade e da necessidade de se justificar a cada passo que se dá", afirmou ao G1.
Segundo Lia, o trecho não possui grande impacto literário, mas mantém as características da escrita do autor. "Não há quase nenhum impacto. Mas reconhecemos no trecho a maneira filosófica de Mário de Andrade se autoanalisar. Ele coloca as suas inquietações de maneira própria. Ele fala sobre o incômodo de ser uma pessoa pública e ter sua vida questionada".
Divergências com Oswald de Andrade
Observando o original, é possível notar diferenças também no trecho que já foi publicado. No livro, Mário se refere à degradação de sua amizade com uma pessoa que foi identificada como somente X.
Ao observar o original, é possível notar que trata-se de Oswald de Andrade, escritor que, com ele, ajudou a difundir o Modernismo, e que ele trata como "Osvaldo".
"Meu Deus como eu vivo palmatória-do-mundo! Ora censuro o Ascenso, ora o Osvaldo, se você imaginasse tudo o que já tenho falado para o Osvaldo em nossa vida! E com que asperezas!... E o mais bonito, Manú, é que o Osvaldo não é meu amigo, fique sabendo. Eu é que sou amigo dele. Não me venha falar tudo o que você já me tem falado sobre êle, já sei de tudo e aceito muito, Porêm conhecendo cotidianamente o Osvaldo, posso muito, mas muito particularmente falar para você que ele não tem nobreza moral. E o que é mais triste é que êle mesmo já põe reparo nisso e está se utilizando disso para viver", afirma Mário em outro trecho.
A presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa afirma que a restrição ao nome de Oswald de Andrade veio de Bandeira.
"O X colocado no lugar do nome do escritor é para resguardar a memória dos dois. Tanto que, no prefácio, Manuel Bandeira usa um tom de desculpa, pois o Mário considerava a sua correspondência com ele como muito privada. Por isso ele faz este corte, para respeitar esta imagem pública", explica Lia Calabre. No ano seguinte, Mário e Oswald romperam a amizade definitivamente.
Liberação determinada pela justiça
A liberação do trecho foi determinada pela Controladoria Geral da União (CGU) no último dia 9 de junho, após um pedido do jornalista Mário Bortoloti, da revista "Época", com base na Lei de Acesso à Informação.
A Fundação Casa de Rui Barbosa chegou a questionar que o acordo para a não divulgação do trecho era anterior à legislação, mas não conseguiu impedir que o trecho em que Mário fala abertamente dos rumores acerca de sua vida particular viessem à tona. De acordo com a presidente da instituição, o veto da família só foi rompido pela obrigatoriedade de cumprimento da decisão judicial.
"O texto revela menos do que as pessoas imaginavam. Ela sempre foi mantida em sigilo por um desejo da família de Mário de Andrade. A permissão do uso é uma negociação respeitando o direito da família, que não desejava que o trecho fosse divulgado", afirma Lia Calabre.
Leia, abaixo, o trecho revelado nesta quinta (foi mantida a grafia original):
"Mas em que podia ajuntar em grandeza ou milhoria pra nós ambos, pra você, ou pra mim, comentarmos e eu elucidar você sobre a minha tão falada (pelos outros) homossexualidade? Em nada. Valia de alguma coisa eu mostrar o muito de exagero que há nessas contínuas conversas sociais? Não adiantava nada pra você que não é indivíduo de intrigas sociais. Pra você me defender dos outros? Não adiantava nada pra mim porquê em toda vida tem duas vidas, a social e a particular, na particular isso só me interessa a mim e na social você não conseguia evitar a socialisão absolutamente desprezível duma verdade inicial. Quanto a mim pessoalmente, num caso tão decisivo pra minha vida particular como isso é, creio que você está seguro que um indivíduo estudioso e observador como eu, ha-de estar bem inteirado do assunto, ha-de te-lo bem catalogado e especificado, ha-de ter tudo 'normalisado' em si, si é que posso me servir de 'normalisar' neste caso. Tanto mais, Manú, que o ridículo dos socializadores da minha vida particular é enorme. Note as incongruências e contradições em que caem.: O caso da 'Maria' não é típico? Me dão todos os vícios que, por ignorância ou por interesse de intriga, são por eles considerados ridículos e no entanto assim que fiz duma realidade penosa a 'Maria', não teve nenhum que não [palavra não estava riscada no original] caçoasse falando que aquilo era idealização pra desencaminhar os que me acreditavam nem sei o quê, mas todos falaram que era fulana de tal.
Mas si agora toco neste assunto em que me porto com absoluta e elegante discrição social, tão absoluta que sou incapaz de convidar um companheiro daqui, a sair sozinho comigo na rua (veja como eu tenho a minha vida mais regulada que máquina de previsão) e si saio com alguém é porquê se poderia tirar dele um argumento para explicar minhas amizades platônicas, só minhas. Ah, Manú, disso só eu mesmo posso falar, e me deixe que ao menos pra você, com quem apesar das delicadezas da nossa amizade, sou duma sinceridade absoluta, me deixe afirmar que não tenho nenhum sequestro não. Os sequestros num caso como este onde o físico que é burro e nunca se esconde entra em linha de conta como argumento decisivo, os sequestros são impossíveis.
Eis aí uns pensamentos jogados no papel sem conclusão nem sequência. Faça deles o que quiser".
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